- Anda brincar comigo - pediu o principezinho. - Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda não me cativaste...
-O que é que "cativar" quer dizer?...
-Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
-Laços?!
-Sim, laços - disse a raposa. - ...Eu não preciso de ti. E tu não precisas de mim... Mas se me cativares nós precisaremos um do outro. Serás para mim único no mundo e eu serei para ti, única no mundo... Tenho uma vida terrivelmente monótona... Mas se tu me cativares, a minha vida fica cheia se Sol. Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Não me fazem lembrar de nada. É uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então quando eu estiver cativada por ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti... Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa.
(Assim, o principezinho cativou a raposa...)
E, quando chegou a hora da despedida:
- Ai que vou chorar! Lamentou-se a raposa..
- A culpa é tua - disse o principezinho - eu não queria fazer-te mal, mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Sim - concordou a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo... Vês , ali, os campos de espigas? Eu não como pão. Para mim o trigo é inútil. Os os campos de espigas nunca significaram nada para mim. E isso é muito triste! Mas tu... Tu tens o cabelo cor de ouro. O trigo dourado fará lembrar-me de ti. E pela primeira vez amarei o ruído do vento no trigo...
-Adeus - disse o principezinho.
-Adeus - disse a raposa, e ficou durante muito tempo a olhar extasiada para os campos de trigo e a ouvir o vento assobiar entre as espigas.
Então o principezinho seguiu o seu caminho e notou com alegria que cada árvore lhe recordava a cor do pelo da sua amiga raposa.
Antoine De Saint-Exupéry